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O BOLO-REI, NUMA ESPÉCIE DE CRÓNICA AO ESTILO DE ANTONIO TABUCCHI*

O Bolo-Rei, Soberano nas Mesas Natalícias Portuguesas

 

Na lareira crepita uma chama tímida, mas aconchegante, enquanto à mesa se desenrola uma tradição que, ano após ano, Natal após Natal, se assume como um capítulo inevitável da cultura portuguesa: o momento do Bolo-Rei. Sentado diante do banquete festivo, observo os convivas ansiosos, cada um com sua própria teoria sobre qual a melhor fatia.

 

Entre risos e brindes, a mesa é palco de sabores e tradições que se entrelaçam. O Bolo-Rei, majestoso no seu manto de açúcar e sempre acompanhado por um Porto à maneira, é a estrela desta festa natalícia. Como um mestre-de-cerimónias, é ele que anuncia a chegada da celebração, é ele que oficializa o espírito da época.

 

O Bolo-Rei, soberano nas mesas natalícias portuguesas, é uma pequena obra-prima gastronómica. Da realeza, herdou a forma de coroa cravejada de joias preciosas, no caso as exuberantes frutas cristalizadas, de cores vivas e brilhantes. É um bolo majestoso e festivo. A sua massa lêveda macia e levemente amanteigada envolve generosamente frutos secos como nozes, amêndoas, avelãs e pinhões e frutas cristalizadas, proporcionando uma explosão de sabores em cada fatia. A origem do nome remonta à tradição dos Reis Magos, celebrada no Dia de Reis a 6 de janeiro, quando se assinala a visita dos três reis ao Menino Jesus. O Bolo-Rei ganhou popularidade nas mesas portuguesas no século XIX, trazendo consigo a riqueza de ingredientes que simbolizam a abundância e a partilha, essenciais nesta época festiva.

 

O Bolo-Rei é herdeiro de bonitas tradições, como a mítica fava e o brinde. A fava seca, inserida na massa, era uma espécie de jogo que adicionava diversão à tradição. Aquele a quem calhasse a fava no pedaço que lhe saísse era tradicionalmente responsável por financiar o Bolo-Rei do ano seguinte. Já o brinde, uma pequena surpresa escondida na massa, costumava ser um qualquer objeto de metal de qualidade questionável, que enchia de entusiasmo as crianças que o disputavam. No entanto, regulamentações sanitárias modernas e preocupações legítimas com a possibilidade de estes elementos provocarem obstruções e engasgamentos indesejáveis nos comensais, acabaram por quase fazê-los desparecer de cena, tornando-os num encanto nostálgico do passado.

 

Ali reunidos, cortamos juntos, num gesto de comunhão, o símbolo maior do Natal luso. Cada fatia é mais do que uma mistura de frutos secos e frutas cristalizadas. Cada fatia é um pedaço da história, um elo entre o presente e as memórias dos Natais passados.

 

Num país que abraça as suas tradições com fervor, o Bolo-Rei é mais do que um simples doce de Natal; é uma narrativa que se desdobra a cada dentada. Nas suas camadas, encontramos a herança de séculos de convívio, a doçura da saudade, e o calor de um lar português.

 

 

 

* Esta crónica, que procura recriar o estilo do escritor italiano Antonio Tabucchi, conhecido pelo seu amor por Portugal e pela sua literatura (ele mesmo tendo obtido nacionalidade portuguesa em 2004), foi tecida numa colaboração única entre inteligência artificial e criatividade humana. Que estas palavras sirvam como uma homenagem à riqueza das tradições e que o espírito do Bolo-Rei, com as suas camadas de história e sabor, continue a unir gerações à volta da mesa por muitos e muitos anos.