A ESTAÇÃO DE SÃO BENTO, NO ESTILO LITERÁRIO DE VIRGINIA WOOLF*

A Estação de São Bento e os Painéis de Vidas Cruzadas

 

 

Num fim de tarde outonal, no coração do Porto histórico, a Estação de São Bento emerge serena sob um céu acinzentado. Nas estações de comboio, há sempre uma aura de mistério e de melancolia, ecos de emoções que acompanham reencontros e despedidas. Assim era ali, em São Bento. Naquelas pedras polidas pelo tempo, as vidas de centenas de estranhos entrelaçavam-se, todos os dias, por breves e raros instantes.

 

Enquanto esperava pelo comboio que a haveria de levar até casa dos pais, no Douro, uma jovem de cabelos escuros, lia um livro desgastado com avidez, o seu refúgio da agitação da realidade. As palavras impressas transportavam-na para mundos distantes, enquanto a sua própria história se desenrolava silenciosamente nas entrelinhas. Próximo dela, um homem de meia-idade, cabelos grisalhos e sorriso doce, num fato discreto e sóbrio, recolhia-se, absorto, em pensamentos profundos. A rotina diária de ir e vir para o trabalho era interrompida por breves vislumbres de um desejo inexprimível por algo mais significativo. Numa outra extremidade da plataforma, uma mulher idosa, com um lenço negro na cabeça, segurava com reverência uma carta amarelecida pelo tempo. Os seus olhos, agora turvos pelo peso das lembranças, percorriam as palavras com saudade e nostalgia. A carta que tinha nas mãos, um elo com o passado distante, desencadeava um mundo de emoções que transcendia as barreiras do tempo.

 

A Estação de São Bento ergue-se como uma obra-prima arquitetónica, majestosamente revestida de magníficos painéis de azulejos azuis e brancos. Os painéis retratam cenas da história e da cultura de Portugal, e as figuras pareciam ganhar vida sob a luz suave que banhava o interior da estação. Visto de fora, era fácil encaixar cada um deles – a jovem, o senhor de meia-idade e a senhora idosa - no painel onde aleatoriamente se haviam encostado, indiferentes às histórias que cada quadro contava.

 

E enquanto o mundo real continuava o seu movimento constante na estação, um novo universo de possibilidades desdobrava-se na imaginação daqueles que ali aguardavam. Certo é que cada viajante é também um explorador de mundos tão diversos quanto as cenas e paisagens representadas nas paredes de São Bento.

 

Uma gare personifica a intricada rede de pensamentos e reflexões que se entrelaça com os trilhos que partem em todas as direções, ressoando as viagens físicas e interiores que cada um de nós realiza diariamente. A mente humana é um labirinto de emoções, memórias e sonhos. Assim como os comboios partem, rasgando planícies, vales e montanhas, também as pessoas embarcam nas suas jornadas internas, explorando os recantos mais ocultos dos seus medos, esperanças e sentimentos.

 

Enquanto o sol se escondia por detrás das nuvens, um manto de melancolia abatia-se sobre a Estação de São Bento, acentuando-lhe a beleza. Era como se as vidas ali enlaçadas fossem também fragmentos de um quadro, capturados na efemeridade do tempo.

 

Os comboios chegaram. A jovem guardou o livro, mas as palavras que lera continuaram a ecoar na sua mente. O homem de meia-idade, agora com um olhar decidido, estava prestes a embarcar numa viagem que o levaria para além dos limites da rotina diária (mas só ele sabia disso). A mulher idosa, ao fechar a carta com um suspiro, despediu-se do passado e guardou-a no seu saco, como se estivesse a dar as boas-vindas ao presente.

 

Os passageiros subiram a bordo, os motores fizeram-se ouvir e as linhas férreas cumpriram os seus destinos em direção a outras paragens. Assim como os comboios partiam, também a vida seguia o seu curso. E na Estação de São Bento, onde cada azulejo era um espelho de memórias e cada viajante um reflexo da complexidade humana, o tempo desdobrava-se como as páginas de um livro infinito, onde cada capítulo narrava as histórias cruzadas de todos os que ali passavam. Cada viagem que é, afinal, um verso na grande epopeia da existência, onde os destinos se enlaçam, os sonhos se tecem e as despedidas se transformam em promessas de reencontros.

 

 

 

* Neste texto, combinamos a criatividade da mente humana com a capacidade da inteligência artificial para recriar o estilo literário de Virginia Woolf. A Estação de São Bento, com o seu cenário de azulejos e histórias em movimento, é o ponto de partida para uma jornada de reflexões sobre a complexidade das mentes humanas. Como os comboios que vão e vêm, a existência de cada um de nós entrelaça-se na efemeridade do tempo, deixando vestígios na eternidade da literatura.